quarta-feira, 19 de março de 2014

O parto da Lia - parte 2

....Umas 10 da noite vieram fazer outro cardiotoco. Com poucas contrações, a enfermeira de plantão puxou uma cadeira, sentou do meu lado e conversou comigo. Me aconselhou a tomar um banho e a dormir, porque eu precisaria de forças nos próximos dias. Ela perguntou também sobre trabalho, filho, onde eu morava, parecia q queria me distrair, me fazer sentir bem. Meia noite e pouco trouxeram outra mulher pro quarto – uma ortodoxa q estava no 11º parto. Tão experiente q, sem dar um pio, deitou e dormiu a noite toda (coisa q não deve fazer muito em casa). No outro dia, ainda sem dar um pio, anunciou q tinha tido uma contração forte e q deveria ir pra sala de parto.

Às 2 da manhã eu estava com muitas contrações, a cada 4 minutos em média. Fui até a enfermeira, ela me fez outro cardiotoco e resolveu me mandar para um exame de toque: “Dois cm de dilatação, vai tomar banho e pular na bola fisio, quem sabe até de manhã esse parto começa de verdade”. Perguntei se deveria chamar o marido, mas a médica disse q não, q eu precisava mesmo era descansar. Por acaso, foi eu chegar ao quarto de volta e o marido ligar e anunciar q estava voltando pro hospital, ele e a Elza.

Tentei dormir um pouco, não deu muito jeito e quando as contrações deveriam engrenar, elas na verdade pararam, como se nunca tivessem existido. Às 9 e pouco da manhã teve visita médica e resolveram me dar outra dose do indutor. Meu tampão caiu na hora do almoço e mais uma vez, algumas horas depois, comecei a ter contrações, mais fortes dessa vez. Eu me empolguei, sempre achei q minha filha nasceria no dia 20 de fevereiro, achei q estava certa. Às 3 e pouco da tarde tive outra consulta e exame de toque e eu tinha quase 3 cm de dilatação. A médica prometeu outro exame em 2 ou 3 horas e se houvesse progresso, eu iria pra sala de parto até o final do dia.

A Avigail veio me visitar e tanto ela quanto a Elza me aconselharam a ir fazer uma caminhada pelo estacionamento do hospital, pra ver se o negócio fluía. Estava uma tarde linda, um sol quentinho e lá fomos nós, andar por uns 40 minutos. A cada contração eu dançava “o tchan” (sim, no estacionamento do hospital super religioso), na esperança de amenizar a dor e de acelerar o processo. No final da caminhada voltamos pro quarto e as contrações sumiram.

A essa altura eu estava começando a cansar e a me encher. Até então, a cada contração eu pensava “uma a menos para o encontro com a minha filha” e as encarava numa boa, apesar da dor. Dois dias de contrações e dores depois, eu me vi tendo raiva delas, já q aparentemente elas não “serviam pra nada”, o parto não acontecia. Eu estava incomodada, cansada e acima de tudo, com muitas saudades do Uri. Conhecendo meu filho, eu sabia q ele estaria se mostrando forte e todo mundo estaria achando q ele estava adorando estar com pessoas diferentes a cada dia. Eu acredito q sim, ele estava se divertindo, mas q por outro lado ele não estava entendendo nada e sentia falta da rotina e da mãe dele em casa. Quando a gente explicava q a mamãe “tinha ido pro hospital pra buscar a nenê”, eu tinha certeza de q ele não entendia o porquê da minha demora em voltar pra casa com a irmã dele. Minha amiga Iara estava vindo de Tel Aviv para dormir com ele aquela noite (e passar o final de semana também), mas pedi pro Ariel ir pra casa. O Uri aparentemente precisava mais dele do q eu, já q o parto parecia distante... Com o Ariel em casa eu me sentia mais tranquila em saber q o Uri estaria mais próximo do q ele conhece como rotina e com o backup da Iara, o Ariel poderia voltar pro hospital caso fosse necessário.

Fiquei sozinha, sem o Ariel, a Elza ou as contrações. Cheguei a fazer outro exame de toque naquela noite, mas não havia progresso algum. Assisti Master Chef do meu telefone, rezei e tentei dormir.

O Ariel passou a noite toda com o Uri, o levou pro gan e veio pro hospital. Me encontrou de mau humor e semi deprimida. Quando a médica passou visita às 9 da manhã, eu perguntei quais eram os planos deles pra mim, se eu ficaria tomando indutor sem muito resultado. Ela explicou q não, q agora q eu tinha dilatação e 80% do colo do útero apagado, se eu desejasse, poderia tomar ocitocina e acelerar esse parto. E disse uma frase q eu nunca vou esquecer: “Anotem ai, dia 21 é a data de nascimento da filha de vocês!”

De novo, ocitocina não estava nos meus planos iniciais, mas àquela altura, eu não tinha mais esperança de parir segundo os meus planos iniciais. Eu queria parir, ponto. Queria conhecer a minha filha, queria voltar pra casa pro meu filho, queria começar a nossa vida nova. Não sei se todas as mulheres são assim, mas naqueles dias, o bem estar do filho “q estava do lado de fora”, era tão importante quanto da q “estava aqui dentro”. Eu não conseguia mais estar fora de casa porque eu sabia q ele precisava de mim e sim, a minha decisão de acelerar mais ainda o parto foi influenciada pela existência de outro filho, q precisava de mim também.

A última foto da barriga - com as flores q chegaram da família na Espanha...

Foi decidido q eu seria levada a uma sala de parto no decorrer do dia, não sabiam quando, pois havia outros casos mais urgentes do q o meu. Pedi pro Ariel ir buscar o Uri no gan (era sexta feira e ele só tinha gan até meio dia) e trazer pro hospital por algumas horas. A Iara chegou de Tel Aviv e veio direto pro hospital, pra voltar pra casa com o Uri e o nosso carro, q estava lá desde a minha internação. Meu coração se alegrou e se acalmou ao ver o meu filho, porque eu sabia da importância disso pra ele. Ele almoçou comigo, brincou um pouco no quarto e no hospital e depois de uma hora e pouco, foi embora. Mais uma vez, ele não entendeu o porquê da Iara dirigir o nosso carro e de eu não voltar com ele pra casa.

o quase irmão mais velho...

Quando voltamos ao quarto, nos avisaram q a sala de parto estava pronta, nos esperando. Arrumamos o q precisávamos rapidamente e fomos pra lá. Avisei a Avigail sobre os planos da médica e ela disse q estava a caminho do hospital, mas para fazer outro parto, de uma mulher q estava a caminho, vindo do norte de Israel, e ela esperava conseguir estar no meu parto também. Esperei terminarem de preparar a sala e quando fui entrar, uma parteira chegou esbaforida trazendo outra mulher com 9 de dilatação q precisava usar aquela sala naquele segundo. Então me mandaram esperar do lado de fora com o Ariel e essa foi a parte mais chata de todo o processo. Esperamos por mais de duas horas e no final nos mandaram de volta pro quarto, pois as salas de partos estavam todas lotadas, com casos mais urgentes do q o meu, e eles não podia se dar “ao luxo” de me manter numa sala por tantas horas, o q era o esperado de um parto com ocitocina. Argumentei dizendo q eu estava sem líquido amniótico havia 3 dias e isso poderia ser perigoso pra nenê, então resolveram fazer um novo US e viram q eu tinha um pouco de líquido, o suficiente para ela estar bem (como também comprovado pelos muitos cardiotocos q eu fazia por dia), mas o médico de plantão perguntou se eu queria fazer uma separação de membranas, pra ver se alguma coisa acontecia nas horas seguintes. Naquela hora eu tava aceitando até machadada na cabeça, se aquilo significasse q meu parto começaria, então aceitei e quase morri de dor e desconforto.

Voltamos pro quarto decepcionados e dormimos. Acordei às 5 e pouco da tarde e resolvi pedir q me fizessem outro cardiotoco. Alguns minutos mais tarde, a Avigail entra no nosso quarto e eu acho q nunca vou esquecer dessa cena e sempre lembrarei daquela iemenita de um metro e meio como uma pequena super herói, entrando com uma capa e um escudo no quarto e nos “salvando” do “parto sem fim”. Ela disse q tinha conseguido um quarto pra mim e q deveríamos ir pra lá naquele segundo. O Ariel ainda brincou q era hora do jantar e ele pretendia comer (sempre, sempre faminto o meu marido) e ela disse pra comermos em 5 minutos e irmos.

Eu não tinha fome alguma, mas fui ao refeitório pegar comida pro Ariel. #Pausa – O Leniado é um hospital ultra-ortodoxo, como eu disse. O refeitório é só para as parturientes, nem acompanhante mulher pode entrar e muito menos homem. Além disso, era sexta feira, 6 e pouquinho da tarde e qualquer um q saiba um pouquinho de judaísmo imagina o q acontecia naquele momento – Kidush de Shabbat. Entro esbaforida no refeitório, querendo jogar qualquer coisa no prato e ir ter a minha filha e dou de cara com um homem hiper religioso (nível xaxim na cabeça) fazendo kidush, em idish. Esperei, ri sozinha de Murphy regendo a minha vida, engrossei o coro do “amén”, tomei um vinhosinho abençoado e sai de lá.

isso é o chapéu xaxim
Ariel engoliu a comida e fomos pra sala de parto. Era exatamente 7 horas da noite. A Avigail entrou, fez (outro) exame de toque, confirmou os 3 cm, colocou acesso na minha veia e começou com a ocitocina.

a foto mais parecida da "trave" q encontrei no Google, mas a cama era diferente
Saiu da sala e voltou com uma almofada bem grande, q colocou atrás de mim e uma “trave de futebol” em volta da cama. Levantou o encosto e disse “cada vez q vier uma contração, se segura na parte de cima dessa trave e rebola”. Nem um minuto depois veio uma, eu fiz o q ela mandou e senti uma dor gigantesca, como nunca havia sentido antes, nem no parto do Uri. A dor foi fortíssima, mas de alguma forma, era uma dor boa. Ela deu risada, me examinou e disse “Querida, teu parto começou!”. Tenho plena consciência de q ter tido um parto sentada e não deitada, ajudou muito a acelerar o processo todo, assim como a trave e os movimentos q ela me ensinou a fazer. Hoje, ao pensar num parto deitado, não entendo o porquê de se ir contra a força da gravidade e a natureza em si. Pra nascer, o bebê precisa ser empurrado pra baixo, e deitada, a mulher tem q fazer muito mais força.

As contrações aumentaram muito rapidamente – vinham mais fortes e em intervalos mais curtos. Em poucos minutos ela foi chamar o anestesista e eu, q até cheguei a planejar um parto natural e sem epidural, temi pelas contrações induzidas (pela minha experiência anterior) e não quis ser forte naquele momento.

O anestesista chegou em 10 minutos e tiraram o Ariel da sala para aplicarem a epidural. Como da outra vez, apesar do medo, a dor da picada foi totalmente suportável, mesmo com duas ou três contrações no meio do processo. O anestesista mal saiu da sala, o Ariel estava voltando pra lá e foi recebido pela Avigail, q acaba de me examinar de novo, com a frase “7 centímetros de dilatação”. Ariel correu pra ir avisar a Elza da proximidade do parto ativo (e teve q ligar escondido, pois era Shabbat e não se pode usar o telefone no hospital em Shabbat).

Ela saiu e voltou com a “mesa de nascimento” – um pequeno carrinho com tudo o q ela precisaria para o parto ativo e pro nascimento do bebê. Eu ainda ri e disse q ela estava exagerando, q ainda tinha tempo pra aquilo e ela gargalhou, me examinando de novo (nem cinco minutos depois do último toque): “Dilatação completa. Vamos lá, tua filha vai nascer”.

Além disso, e sem a gente pedir, ela apagou quase todas as luzes da sala, deixando só uma, fraquinha... Me apaixonei de novo por ela por esse gesto de carinho e compaixão pela bebê, q não merecia vir ao mundo sob holofotes fortes (ela tem a vida toda pra brilhar depois). Segundo ela, até Rambam (Maimônides) escreveu sobre a importância de um ambiente acolhedor no nascimento.

O Ariel ficou do meu lado esquerdo, ela do direito e eu me deitei de lado. A epidural não tinha nem tido efeito completamente e eu, apesar de não sentir dor alguma, senti todas as contrações e todo o parto, exatamente o q eu queria. Logo a Avigail e o Ariel viram os cabelinhos da nenê e anunciaram q ela não era ruiva, o q decepcionou o pai, q sempre sonhou com uma filha laranjinha.

Eu entrei em transe, nunca vou esquecer desses segundos, ou minutos, já nem sei mais. Não enxergava nem escutava nada, apenas concentrava todas as minhas forças e ajudava a minha filha a vir ao mundo. Foi, com certeza, uma das sensações mais alucinantes e marcantes dos meus 37 anos. Enquanto isso, a Avigail fazia massagem no períneo com o óleo de amêndoas q eu havia levado. Como ela prometeu, eu não teria cortes.
Em duas ou três contrações mais, ela coroou. Em poucas mais, os ombros passaram e eu fui intimada a segurá-la e trazê-la, eu mesma, pro meu peito.

A Lia chegou, num parto totalmente diferente do q eu tinha planejado, mas q foi exatamente o q deveria ter sido: A reparação da minha experiência de trazer meus filhos ao mundo. Se o primeiro foi difícil, esse foi fácil. Se o primeiro doeu muito, esse eu pouco senti. Se o primeiro me deu muito medo, nesse eu tinha segurança em mim, no meu corpo e na pessoa q trouxe pra me ajudar. Se o primeiro foi ruim, esse foi maravilhoso.

Às 08h22min da noite a minha filha chegou berrando, segurando o cordão umbilical com a mãozinha. Esperamos ele parar de pulsar e o pai dela realizou o seu sonho de cortá-lo. Ela então foi rapidamente pesada (2,650 gr) e trazida pra mim de novo, pra mamar. Logo chegou a doula q, apesar de ter sido avisada a tempo, não pôde competir com esse parto relâmpago.

Ficamos os três babando nela enquanto minha placenta foi expelida, intacta. Uma médica foi chamada pra dar um único ponto, q foi preciso pois ao passar, a Lia arrebentou a cicatriz de um dos pontos do parto do Uri.

Depois de mais de 1 hora, me examinaram de novo e a levaram pro berçário e me levaram de volta pro quarto. Eu estava eufórica, queria levantar pra tomar banho, mandei o Ariel e a Elza embora pra casa e fui pegar a minha filha, q estava numa cama aquecida dormindo tão profundamente q tive pena de tirá-la de lá. Resolvi ir descansar, já às 11 e pouco da noite.

E assim nos tornamos quatro, como estava escrito. Num parto tão rápido, tão íntimo, tão bonito, q me deu saudades já no dia seguinte, tanto q eu falo pro Ariel: “Se tudo começasse e terminasse num parto assim, eu teria mais dois.”

pensa numa pessoa em êxtase...






Ainda fiquei mais dois dias no hospital e não tenho palavras pra definir o tratamento q recebi durante todo o tempo q fiquei lá. Todos os médicos, as enfermeiras, as parteiras sempre foram muito atenciosas e carinhosas. Além disso, tudo é muito organizado e cada um sabe o seu papel e tudo funciona direito.

Resolvi deixar a Lia no berçário à noite pra eu poder descansar, mas pedi pra não darem leite artificial pra ela, e q me chamassem caso ela chorasse. Nas duas primeiras noites ela não chorou, na última me chamaram e eu fui amamentá-la na sala de amamentação q ficava no corredor do meu quarto e acabei me arrependendo de não ter ido lá mais vezes. Uma sala linda, bem decorada, com potronas confortáveis e mães passando pelo mesmo q eu passava. No dia seguinte, antes de ir embora, fui até lá e tive uma consulta de quase uma hora com uma especialista em amamentação. Além do q paguei pra parteira (q foi opção minha), todo o resto não me custou um centavo, tanto q levei minha bolsa pro hospital porque estava dirigindo quando cheguei, mas o Ariel a levou embora assim q voltou pra casa pela primeira vez, pois não precisei de dinheiro algum em nenhum momento até a nossa saída.
tirei foto porque quero uma igual!

A sala de amamentação

A decisão de contratar uma parteira particular é hoje abençoada por mim e pelo Ariel. Durante o parto mesmo ele confessou entender a importância disso pra mim e pro parto q tivemos dessa vez. Chegamos a ficar tristes em saber q pouco provavelmente encontraremos a Avigail em outros momentos da nossa vida, já q a possibilidade de outro parto está descartada. Essa mulher foi abençoada por um dom incrível, o de trazer, de uma forma respeituosa e cheia de amor, novos seres humanos ao mundo e nós sempre falaremos dela com carinho e admiração.

Fora ela, a presença da Elza, a doula, nos acalmou e trouxe companhia. O seu marido e a sua filha e as amigas q vieram de longe pra ficar com o Uri nos provaram q não precisa ter sangue pra ser família, pra se importar, pra cuidar.


A Lia vai completar um mês em dois dias e não há um dia em q eu não me lembre da maneira como ela chegou ao mundo e não agradeça por tudo o q aconteceu com a gente e pelas pessoas q passaram pelo nosso caminho pra q isso acontecesse. 

terça-feira, 18 de março de 2014

O parto da Lia - parte I

Meu primeiro filho, Uri, nasceu no dia 17 de fevereiro de 2011, às 40 semanas e 3 dias, no Hospital Leniado em Netanya, Israel. Apesar de toda a minha (então presumida) preparação, tive um parto ruim, traumatizante. Não vou entrar em detalhes sobre ele aqui (porque já tenho muito o q escrever sobre o meu segundo parto), mas foi um parto induzido (usando prostaglandina sintética, Citotec), relativamente rápido, mas extremamente dolorido. Meu corpo teve uma reação péssima ao indutor, tive contrações insanas, fui de 0 a 10 de dilatação em menos de 1 hora, os batimentos dele caíram muito e passamos horas observando o monitor e rezando para q eles subissem, foi usado o aparelho de vácuo para tirá-lo às pressas, pois ele estava em sofrimento fetal, levei muitos pontos dados por um médico insensível q se irritou com a minha dor, sofri muito durante e após o parto, com dores horríveis por mais de 2 semanas e um trauma q só foi apagado exatamente 3 anos depois.

Não me cabe nem adianta julgar os motivos pelos quais aquele parto foi induzido, nem a falta de sorte com a equipe q me atendeu naquele dia. Graças a D-us meu filho nasceu bem e nem de longe tem alguma sequela da sua (triste e confusa) chegada ao mundo. E pra mim isso é muito importante.

************************************************************************************************************

Três anos depois, me vi grávida e com muita vontade de mudar essa história, de trazer minha filha ao mundo de uma maneira mais gentil, mais feliz e mais emocionante. Li mais, conversei mais, procurei saber mais. Na gravidez do Uri, tudo me parecia natural: “Assim como ele entrou, ele sairá. Vai doer, vai demorar, mas ele vai chegar e vai ser bom”. Bom foi tê-lo comigo, mas a chegada não foi boa. E eu queria muito mudar isso.

Aqui em Israel, o médico q te acompanha na gravidez muito provavelmente não estará no seu parto. Aliás, ele nem vai saber q você teve contrações e q foi pro hospital quando a tua bolsa estourar (se a bolsa estourar). Você vai se dirigir ao hospital mais próximo (ou o q tiver escolhido) e quem vai te ajudar será uma parteira. As parteiras se revezam entre uma sala de parto e outra, atendendo todas as parturientes e há um ou dois médicos de plantão para quando a coisa complica, mas enquanto tudo estiver bem, quem vai te ajudar é a parteira e sinceramente, não há perigo nenhum nisso, todas são extremamente profissionais e capazes e um médico não faz falta (acredite, brasileira!).

Tenho um ginecologista e obstetra do qual eu gosto muito (tanto q o chamo de Dr. Queridinho) e q me acompanha desde a gravidez do Uri. Ele me atende tanto na clínica do plano de saúde quanto no Hospital Leniado, onde trabalha duas vezes por semana.

Dessa vez, na vontade e esperança de ter uma experiência mais legal, resolvi usar um serviço especial do Leniado: A contratação de uma parteira particular, q me conheceria antes do parto, saberia dos meus medos e ansiedades e estaria comigo o tempo todo. É um serviço caro, o marido perguntou se era mesmo necessário um gasto tão grande numa época tão economicamente conturbada na nossa pequena família com a chegada de outro filho, mas eu fui clara – “Eu posso discutir tudo com você, decidir todos os nossos gastos juntos, mas como quem passou e passará por isso sou eu e somente eu, me dou o direito de tomar essa decisão sozinha” e ele ficou sem opção e concordou. Para ilustrar, esse serviço especial me custou metade do q somente um ginecologista cobra pra fazer um parto normal no Brasil.

Conversando com a minha acupunturista (aka, minha guru), recebi indicação de uma das parteiras q trabalham no Leniado, a Avigail. Meu médico e várias outras pessoas também a recomendaram. Mas eu tinha q falar com ela logo no ínicio da gestação, ou ela não estaria disponível. Me lembro q falei com ela ao telefone em setembro, com menos de 3 meses de gestação. Ela anotou a minha data provável do parto e pediu pra eu entrar em contato quando estivesse com 30 semanas de gestação.
Paralelo a isso, uma amiga querida, a Elza, q além de amiga, de família brasileira em Israel e dona da creche onde o Uri vai é doula também, se ofereceu para estar conosco no parto.


Assim como a primeira gravidez, essa também correu bem, com alguns incômodos, mas sem nenhum problema grave q fosse de real preocupação. Aliás, apesar dos enjoos q senti dessa vez (enjoei pouco na gravidez do Uri), me senti muito melhor nesses nove meses do q tinha me sentido então. Mais leve, mais disposta, mais ativa (com uma criança pequena em casa não tinha outra opção).

A única coisa q de fato me preocupou no final foi a quantidade de líquido amniótico, q estava mais baixa do q o normal desde a semana 30. Passei a fazer um controle semanal com o meu médico, ultrasom e cardiotoco e tudo estava controlado, alguma semanas com mais líquido, outras semanas com menos, mas sempre tudo sob controle.

Até q no dia do meu aniversário, dia 11 de fevereiro, o Ariel me fez uma surpresa e foi me encontrar na clínica onde eu fazia US. Dessa vez a quantidade de LA não era suficiente e o médico se assustou e me assustou. Me mandou ir ao hospital encontrá-lo no dia seguinte, quarta feira. Disse q se a quantidade de LA não subisse, ele iria precisar induzir meu parto.

Mesmo já estando na semana 36 da gravidez, eu não estava pronta pro nascimento dela. Eu precisava de mais uma semana, pelo menos, para terminar de preparar tudo para a sua chegada e eu queria poder comemorar o aniversário de três anos do Uri, q seria na semana seguinte. Parece fútil, mas me entenda – Aos três anos, ele já entende e vibra o seu dia especial e esperava por ele há meses. Teríamos uma festinha no dia 14 na creche e outra em casa, na data mesmo. Uma festa pequena, para poucos convidados, mas cheia de amor de dois pais cansados mas q queriam q ele curtisse aquele seu dia. A decoração ia ser mais simples, as comidas mais práticas, mas a festa precisava acontecer.

De qualquer maneira, sem saber o q ia me acontecer no dia 12, terminei de arrumar a mala do hospital, deixei uma malinha pronta pro Uri, caso ele precisasse ir dormir em outro lugar e rezei para q o melhor acontecesse. Ah, e tomei muita, muita água e vários banhos de banheira pra tentar ajudar a aumentar a quantidade de LA.

A sala de cardiotoco- muito amor


Chegando no hospital, o médico me olhou e riu: “Eu ouvi mesmo nas notícias q o nível de água do Mar da Galiléia desceu de tanta água q você tomou. Pode voltar pra casa, ela não nasce hoje”. E assim foi naquela quarta feira, na sexta seguinte e no domingo também. Eu chegava e saía do hospital, pois o nível de LA se mantinha minimamente OK para a segurança da minha filha. Tive tempo de participar das duas festas do Uri e de curtir o aniversário de três anos dele da maneira como tínhamos planejado e sonhado.









Naquela semana, tirei três dias de folga do trabalho – a 2a feira, dia 17, por conta do aniversário dele, a 3ª e a 4ª para descansar, colocar os pés pra cima e organizar a casa e a chegada da nenê. Estava tão cansada no dia seguinte à festa dele q não tive forças pra sair da cama. Tinha chegado ao meu limite naquela gravidez, precisava diminuir uma marcha, descansar, dormir. E foi o q eu fiz, só sai da cama para levá-lo e buscá-lo na creche.

Na 4ª feira, dia 19, ele veio para a minha cama cedinho, como faz às vezes. Me beijou e abraçou tanto q eu tive certeza de q ele sabia q daquela consulta de controle do hospital eu não voltaria para casa. Cheguei a comentar isso com algumas pessoas, eu sabia q aquele era o dia. Meu filho, q é sempre muito carinhoso, tinha alguma coisa a mais naquela manhã q me fez saber q aquela gravidez estava chegando ao fim. A despedida demorada na creche me fez acreditar mais ainda nisso. Apesar de ansiosa e preocupada, eu estava tranquila. Fui pro hospital e mais uma vez, senti ao entrar q eu ficaria lá por mais do q algumas horas.

Fiz o cardiotoco e a nenê continuava, como sempre, feliz aqui dentro. Mas quando o meu médico colocou o aparelho de US na minha barriga, eu não cheguei a me assustar ou surpreender quando ele anunciou q eu não tinha LA nenhum. Apesar de ter feito tudo o q estava a meu alcance para aumentar esse líquido, eu sabia q tinha chegado o momento dela vir ao mundo. Não me preocupava com a idade gestacional (eu entraria na semana 38 no dia seguinte), nem com o seu peso (ela tinha peso estimado em 3100 no último US), só uma coisa me apavorava, e muito: A indução.

Eu não queria passar por aquele inferno de novo, eu tinha medo da reação do meu corpo, eu tinha sonhado com tudo tão diferente dessa vez – A bolsa estourando, a correria pro hospital, as contrações naturais e não sintéticas, a sala de parto natural (ao contratar a parteira particular, eu ganhava o direito de usar a sala de parto natural do hospital), a banheira, etc. Mas parecia q eu estava assistindo ao mesmo filme, três anos depois. Chegar ao hospital numa quarta feira, ser examinada na mesma sala, pelo mesmo médico e saber q dali eu não sairia sem o bebê no colo.

Ele ainda tentou me examinar e ver se eu tinha alguma dilatação pra poder escolher outro método q não o Citotec dessa vez, a pedido meu, mas não tinha nenhuma, zero, nada, tudo fechado e lacrado. Ele sabia q eu não queria esse método, tentou procurar outras opções, mas não encontrou nenhum (balão de Foley não se usa nesse hospital e ocitocina e separação das membranas só se eu tivesse alguma dilatação, o q não era o caso).

Cheguei a perguntar se eu poderia, caso quisesse, optar pela cesárea e ele disse q sim, q a escolha era minha. Mas eu não queria, por mais q eu tivesse pânico da indução e soubesse q a cesárea encurtaria o tempo de espera e me proporcionaria menos dor antes e durante o parto, eu tinha medo do pós-parto e essa também não era a forma q eu tinha sonhado em parir dessa vez.

Ele me deixou pensar e consultar quem eu quisesse antes de decidir e eu comecei com a série de telefonemas: Liguei pro Ariel e avisei q dali eu não saía mais e ele disse q estava indo me encontrar, mesmo com os meus pedidos pra q ele ficasse no trabalho e não gastasse um dia de folga, já q a gente sabia q mesmo induzida, o parto demoraria pra começar. Liguei também pra Elza, a doula, q consultou a diretora do hospital (brasileira e amiga dela), q concordou com o médico. Depois telefonei pra Yael, a minha acupunturista-guru q, mesmo sendo a pessoa mais humanista q eu conheço, concordou q, se tinha q ser feito, então tinha q ser feito, mas q nem por isso o parto seria necessariamente ruim (e eu chorei quando ela me disse isso). Por último, falei com a Avigail, a parteira, q estava no hospital e me examinou antes de dizer q o médico tinha razão, eu não tinha dilatação nenhuma e o único método disponível era o Citotec mesmo. Por sugestão dela (e da doula também), fui à sala do médico e perguntei se poderia receber uma dose menor do indutor, para evitar o efeito catástrofe q tive no parto anterior. Ele concordou e fomos, eu, ele e a parteira, acertar a minha internação e fazer os procedimentos necessários. Além da dose menor, eu receberia o Citotec em forma oral, diferente da outra vez, q tinha sido pela vagina.




Fui internada na ala nova do hospital, um lugar q mais parece um hotel, todos os quartos são novos, limpos, grandes e têm vista pro mar. Fiquei sozinha nesse quarto (teoricamente duplo) pelo resto do dia e isso foi ótimo. O Ariel chegou logo em seguida, a Elza veio um pouco mais tarde e ficamos esperando as contrações começarem. A cada quatro horas vinham ao quarto me fazer cardiotoco e decidir como continuar a indução. Às 3 e pouco da tarde recebi outra dose do Citotec, já q as contrações não tinham começado.





a vista do quarto

Uma das minhas maiores preocupações nesse parto sempre foi o Uri. Não temos família em Israel, o Ariel não abria mão de ficar comigo e ver a filha nascer (principalmente por ele não ter podido acompanhar o nascimento do Uri por causa do vácuo) e eu não podia e nem queria tirar esse direito dele. Ele estaria na creche até as 5 da tarde e a filha da Elza passaria a noite com ele, mas eu sabia q ela tinha as suas obrigações no final da tarde e por isso resolvi ligar pra Iara, uma amiga de mais de 15 anos, e pedir socorro. Ela não poderia sair de Tel Aviv e chegar a tempo, mas a sua mãe não pensou duas vezes antes de subir no trem e viajar duas horas para ficar com o Uri até a Shai-ly chegar, às 8 e meia da noite.

Mas a indução não ia pra frente, então mandei a Elza e o Ariel pra casa no final do dia. Eu precisava deles descansados, positivos e operantes quando o parto começasse, e não dormindo em poltronas e esgotados. Além disso, eu precisava saber q o Uri estava bem e tranquilo, e sabia q ver o pai o acalmaria (meu filho é super dado e simpático, mas nunca dormiu sem os pais em casa e eu sabia q ele poderia estranhar a agitação toda, mesmo q estivesse aparentemente curtindo). Prometi chamar os dois caso houvesse necessidade. 

sexta-feira, 15 de março de 2013

Já chegou o verão?

Enquanto no resto do hemisfério norte as pessoas ainda não guardaram seus casacões e as suas botas e muitos ainda limpam a neve do carro de manhã, aqui em Israel as temperaturas chegaram a 36 graus hoje!

Apesar de já estarmos com temperaturas mais amenas há algumas semanas, o que acontece hoje é um "fenômeno", que chamamos de Shrav.

Shrav é uma onda de calor que aparece por aqui (e em outros países ao sul do Mediterâneo) na época da "meia estação" - Entre o inverno e a primavera e entre o verão e o outono. De repente, o dia amanhece muito mais quente do que o anterior. 

Apesar de eu adorar verão e já estar acostumada aos dias muito, muito quentes de julho e agosto, esses dias de shrav me fazem sofrer (não sou a única). Não é um dia de verão bonitão, céu azul, vontade de sair sorrindo de shorts e Hawaianas e ir até a praia pegar um bronze. Não, o dia fica meio bege, o ar parado, mal dá pra respirar. E o calor é sufocante. 

Hoje aconteceu a Maratona de Tel Aviv, na verdade a maratona em si foi cancelada (devido à previsão do tempo), mas outras corridas aconteceram e nessa um rapaz de 29 anos morreu e várias outras pessoas passaram mal por desidratação. Triste... Mais sobre isso aqui

Enfim, hoje é dia de ficar em casa, com o ar condicionado ligado. Amanhã a vida volta ao normal, podemos fazer passeios e ir até a praia. Porque sim, essa onda de calor vai embora do mesmo jeito que veio - de repente. Geralmente, no final do dia a onda "quebra", como dizem por aqui.

Mistérios do deserto!

E se você estiver por aqui num dia de shrav, beba muita, muita água!

quarta-feira, 13 de março de 2013

Purim

No final de fevereiro celebramos Purim aqui em Israel, o terceiro do Uri já!
Já passou há um tempinho, mas vamos registrar...

Pra quem não tem saco interesse nem tempo pra ler sobre mais um feriado judaico, aqui vai o resumo: Purim é o nosso carnaval. Pronto, pode ir lá pras fotos.

Mas pra quem quer um pouco mais de cultura, ai vai a minha adaptação e simplificação do que está explicado na Wikipedia.

Purim é um feriado judaico que comemora a salvação dos judeus persas do plano de Hamã, para exterminá-los, no antigo Império Persa, tal como está escrito no Livro de Ester, um dos livros da Bíblia. Os judeus estavam exilados na Babilônia desde a destruição do Templo de Salomão pelos babilônios e dispersão do Reino de Judá. A Babilônia, por sua vez, foi conquistada pela Pérsia.

O nome "Purim" vem da palavra hebraica "pur", que significa "sorteio". Este era o método usado por Haman, o primeiro-ministro do Rei Achashverosh da Pérsia (e o bad guy da história toda), para escolher a data na qual ele pretendia massacrar os judeus do país.

Costumes


Leitura do livro de Ester (ou Meguilat Ester), nas sinagogas, duas vezes durante o feriado.

Reco-reco: Toda vez que o nome de Haman for mencionado durante a leitura da Meguilá, faz-se barulho com o reco-reco ou outros instrumentos sonoros. Isso pra que o nome do cruel Haman não seja mais escutado. É engraçadinho ver isso numa sinagoga. Estão todos lendo o Livro de Ester compenatrados, como numa reza, e de repente começa a maior algazarra, a maior barulheira. As crianças adoram.

Fantasia: Purim é uma festa feliz e fantasiar-se é uma maneira alegre e divertida de aumentar ainda mais a alegria do milagre ocorrido.

Além disso, costuma-se distribuir comida e dinheiro aos pobres e trocar presentes (geralmente 2 tipos de coisas comestíveis - tipo bolo, chocolate, vinho, frutas secas) entre os vizinhos e os amigos e encher a cara! Sim, sim! O costume é beber tanto (os adultos, claro) até que não se perceba a diferença entre o bem e o mau!!

Em praticamente toda cidade em Israel, há um tipo de carnavalzinho de rua: As prefeituras organizam um desfile de carros alegóricos bem mais simples dos que conhecemos no Brasil, a criançada e seus pais vão pras ruas fantasiadas, há atrações como shows infantis, brinquedos tipo pula pula, algodão doce e etc. É diferente do carnaval brasileiro, muito mais "inocente" e mais simples, mas é muito alegre, principalmente pras crianças.

E também há festas nas escolinhas, nas empresas, nas boates...

Esse é um dos meus feriados favoritos, e acho que vou passar a curtí-lo cada vez mais, como mãe. Esse ano as festividades começaram na 6a feira por aqui, com uma festa no gan dele. As crianças foram fantasiadas desde cedo e às 11 da manhã os pais se juntaram para um almoço oferecido pela dona do gan e que estava uma delícia.





Are Baba!



No domingo e na segunda ele não teve creche e eu fiquei com ele em casa. No domingo teve uma festa em um shopping bem perto aqui de casa e na segunda teve outra numa escola. Em ambas, shows, stands com pintura facial, artesanato pras crianças fazerem, brinquedos infláveis e outras atrações.

O Uri curtiu muito a festinha no gan, dançou com os amigos, gostou de se fantasiar. Aos pouquinhos, as festas judaicas vão fazendo mais sentido pra ele. 



O show no shopping:




Um grupo de adolescentes que "achei" fantasiados na rua e pedi pra tirar foto :-)





Quer ver como ele foi fantasiado nos outros anos?


Em 2011, com exato 1 mês de vida, de joaninha e de padeirinho, como o papai...








Em 2012, de gatinho e de Tigrão








O pior (ou melhor) é que eu não consigo decidir em que ano ele estava mais fofo, vamos concordar...








segunda-feira, 4 de março de 2013

"Quem conhece a gaita já sabe quem está chegando..."

Publiquei esse texto semana passada no Mães Internacionais, mas essa história é tão especial na nossa vida que vale a pena registrar por aqui também!


*******************
O Uri, meu filho que acaba de completar 2 anos, já tem uma grande paixão: o Júlio, personagem principal do Cocoricó, programa exibido pela TV Cultura.

Tamanha paixão tem um culpado: a mãe. Eu sempre gostei do programa, acho que é de uma qualidade incrível, tem humor sem ser bobo, ensina (muito) sem ser chato, não “emburrece” nem infantiliza as crianças. Assim, a mãe preocupada com o Português do pequeno israelense (e com a qualidade do que ele assiste), sempre soube que iria apresentar a turma do Paiol pra ele.

Quando ele fez um aninho, ganhou uns DVDs do Cocoricó de uma amiga brasileira aqui em Israel, cujos filhos nunca deram atenção a eles. E foi amor à primeira vista. Tão pequeno, o Uri olhava fascinado pra TV, dançava com a música de abertura e chorava quando colocávamos qualquer outro DVD, pra minha alegria e a do meu marido, que se rendeu aos encantos da turminha também.

O Júlio virou Lúlio (e continua sendo até hoje) e foi o primeiro nome que o Uri aprendeu na vida. Não foi o do pai, o da mãe ou de algum amigo da creche, foi o do Lúlio.

E aí que quase um ano depois, viajamos, eu e ele, pro Brasil. Desde que marquei a passagem, comecei a procurar na internet o calendário de shows do Cocoricó, pois queria muito levar o Uri pra conhecer os ídolos ao vivo, eu sabia que ele adoraria e me emocionava só de pensar na carinha dele quando anunciassem “Quem conhece a gaita já sabe quem tá chegando...”

Não achando nenhuma programação de shows, e com a data da viagem chegando, resolvi ser cara de pau e escrever pra TV Cultura. Perguntei se eles poderiam me informar quando haveria show em São Paulo ou na região de Campinas e que, no caso de não haver mais shows, perguntei se poderia ir com o Uri conhecer os estúdios do paiol (mãe, essa cara de pau!). Algumas horas depois, recebi um email muito atencioso de um funcionário, o F.(vamos manter a privacidade dele, né?), dizendo que os shows foram realmente cancelados (o contrato acabou e não foi renovado) e que ele averiguaria a possibilidade de visitarmos as gravações do programa.

Viajamos pro Brasil e com a correria toda de se viajar com um bebê sozinha por tantas horas, acabei esquecendo do Lúlio, do Cocoricó, da TV Cultura e de várias outras coisas. Mas qual não foi minha surpresa ao abrir meus emails, já em Campinas, e ver uma mensagem do F. dizendo que poderíamos sim visitar o estúdio!

O próximo passo foi descobrir como chegar lá, tanto o endereço, como o meio de transporte, pois iríamos pra São Paulo na semana seguinte, mas sem carro – e cá pra nós, São Paulo não é uma cidade muito fácil de se circular, ainda mais com bebê e sem carro.

Mas como eu tenho as melhores amigas do mundo, um esquema tático foi armado e conseguimos! Estávamos hospedados na casa de uma amiga, na zona sul da cidade. Outra amiga querida, a Fernanda, veio nos buscar e nos levou pra um shopping do outro lado da cidade, que ficava bem perto da Água Branca, onde fica a TV Cultura. Como a Fernanda tinha que trabalhar à tarde, outra amiga, a Karina, veio nos buscar nesse shopping e nos acompanhou até o paiol (e foi a melhor compania que poderiamos ter escolhido pra isso).

Como nada poderia ser tão simples assim, quando saímos do shopping, pra passar a cadeirinha de bebê do carro de uma pro da outra, descobrimos que não tínhamos anotado em qual estacionamento a Fernanda tinha deixado o dela! Sim, foi um erro primário, que nos resultou em 40 minutos de busca do carro perdido, e um pouco de aflição, pois a gravação já estaria começando, mas não perdemos o bom humor.

Outra aventura foi encontrar a TV Cultura! O GPS da Karina se perdia, andava em curvas, errava tudo. Achei um mapa da região no meu celular e conseguimos! Chegamos à Cultura às 3:30, as gravações terminariam em meia hora. Ainda tivemos que esperar a liberação do estacionamento, esperamos o F. nos encontrar e lá fomos nós!

Fomos orientadas a não tirar fotos dos bichos “mortos” (sem o manipulador) e a manter o silêncio, afinal, eles estavam gravando. Munidas de chupeta, biscoito polvilho e muita reza pra manter o Uri quietinho e não atrapalhar, sentamos atrás de um monitor. Ele até que ficou em silêncio durante a gravação da primeira cena, sem entender muito o que acontecia, já que os personagens estavam gravando numa parte que a gente não podia ver do estúdio e ele estava assistindo na “televisão”, como em casa. Mas era pedir demais que um menino tão pequeno, perto dos seus ídolos, não ficasse emocionado e não começasse a demonstrar isso. Na gravação da segunda cena ele se agitou, falou, apontou... Resolvemos esperar lá fora então.

Esperamos pouco, uns 10 minutos apenas, tempo suficiente pra conversar um pouco com o F., agradecer umas 800 vezes pela atenção e ainda, de quebra, ganhar um pacote cheinho de presentes do Cocoricó – um DVD, um jogo, um livro pra colorir, adesivos.

Logo nos chamaram de volta ao estúdio e o Uri foi recebido pelo seu amigão – O Lúlio! A emoção era tanta que ele nem reparou no Fernando Gomes, o manipulador do boneco. Ele olhava encantado, extasiado, apaixonado. Confesso que, antes de chegar, tive um pouco de medo da reação dele ao ver as pessoas manipulando os bonecos, não queria estragar a fantasia dele, mas a verdade é que ele estava tão encantado que realmente não percebeu.

Fomos recebidos com muito carinho, principalmente o Uri. Fizeram questão de conversar com ele, tirar fotos no cenário, receber e dar beijos. Na saída, a mãe aqui ainda pediu um autógrafo pro Lúlio, pra guardar pra posteridade.

Se eu já gostava do Cocoricó, hoje eu sou fã fervorosa. Aliás, não só dele, mas dos manipuladores e dos funcionários da TV Cultura. Fomos recebidos, desde o primeiro email enviado, até o porteiro dos estúdios, com uma atenção e simpatia incomparáveis. A minha fiel escudeira Karina e eu ficamos impressionadas com tanto carinho! Se nos tivessem deixado apenas conhecer o estúdio vazio, se tivessem somente tirado fotos com a gente, já teria bastado. Mas fizeram muito mais do que isso. Realizaram, com muita ternura, o sonho que um menininho nem sabia que tinha! E deixaram uma mãe extasiada... Com a sensação de que ela tem sim super poderes e que sempre vai fazer o impossível pra ver esse sorriso no rosto do filho...





E aqui vão dois videos curtinhos e cortados, mas a emoção e a surpresa eram tamanhas que ninguém raciocinava direito: