quarta-feira, 30 de maio de 2012

Blogagem Coletiva - Mães Internacionais - A Educação em Israel

O termo "educação" engloba tantos aspectos que para não escrever um capítulo do Lusíadas, vou me limitar a escrever nessa Blogagem Coletiva do Mães Internacionais sobre a forma de criação e a disciplina das crianças israelenses, no meu singelo ponto de vista.


É claro que não devemos generalizar e eu acredito que o conceito de educação está muito mais ligado à personalidade e aos interesses dos pais do que a uma cultura e a um país. Com isso quero dizer que na mesma Israel há crianças extremamente bem criadas e educadas por pais presentes, preocupados e interessados. Não as vou tirar de mente, conheço pessoalmente várias dessas famílias, porém...


De uma forma geral, a educação que vejo por ai é muito diferente da educação que eu recebi, da que as minhas amigas de infância  no Brasil receberam (e eu sei porque frequentei a casa de muitas delas) e da educação que o meu filho recebe.


A impressão que sempre me deu em Israel é de que a criança é centro da família, mas de uma maneira que eu não considero a certa. Meu filho Uri é parte muito importante dessa casa, eu e meu marido dedicamos todas as nossas forças, o nosso tempo, o nosso amor e a nossa alma pra criar um menino feliz, humano e de valor. Porém, com muita disciplina e paciência, queremos que ele entenda que o nosso amor por ele não permite que ele seja um pequeno tirano, que dite as regras da casa. Nem sempre é assim simples e óbvio, mas esse é o nosso ponto de saída e estamos aprendendo com ele a ditar as regras para que a criação dele seja saudável e feliz. Erramos, permitimos coisas que depois nos arrependemos, mudamos as regras tentando acertar. Procuramos ser pais presentes, que levam para passear, rolam no chão brincando com ele, sujam as unhas de massinha e conversamos muito com ele, mesmo com o pouco feedback que seus 15 meses nos proporciona. Porém, quem manda nessa casa somos nós e ele vai aprendendo isso aos poucos, conforme a sua idade lhe permite.


O que eu vejo por aí é exatamente o oposto. Os pais estão presentes, mas poucos participam ativamente da criação do filho. A verdade é que a realidade em Israel é diferente da brasileira e pouquissimas crianças são cuidadas por babás após os 2 anos de idade (alguns pais contratam babás só quando o bebê é pequeno e a mãe precisa trabalhar). E as babás mesmo não trabalham além do horário em que os pais estão trabalhando. Não existe, como no Brasil, babá folguista, babá que dorme no emprego. Minto, existem au pairs, eu mesmo já fui uma, mas são muito mais raras (e caras) do que em outros países, eu mesma não tenho nenhuma amiga que tenha au pair em casa. A maioria das crianças vai pra creche (gan) ou escola durante o dia e tem os pais por perto à noite, o que pra mim é uma grande vantagem em relação aos pequenos brasileiros. Na minha opinião, filho tem que ser criado e cuidado pelos pais e os cuidadores "externos" só entram em cena na ausência (justificada pelo trabalho) dos pais. Não me passa pela cabeça ver uma pessoa que não sou eu nem meu marido dando banho ou colocando o Uri pra dormir.


Entretanto, não vale nada estar presente em casa com os filhos e não se dedicar a eles. E é isso q eu vejo por aqui, infelizmente. Nunca vou me esquecer da seguinte cena: O Uri tinha uns 3 meses e o dono do nosso apartamento veio até aqui pra assinarmos algum papel. Enquanto conversávamos com ele, colocamos o Uri vendo um DVD do Bebê Mais, coisa que naquela idade ele fazia uma vez por mês, já que não acho que um bebê novinho precisa ver TV, só o colocamos ali porque nós dois precisávamos dar atenção ao dono do apê. O cara olhou e disse "por isso que é eu gosto de criança. A gente cria na frente da TV e eles não dão trabalho". Achamos q ele estava brincando, mas não estava não... E infelizmente é assim q muita criança é criada aqui.


Mas ai é q está. No Brasil também tem muita criança criada na frente da TV. E do mesmo jeito q aqui somos super incentivados a colocar os bebês no chão desde sempre (em colchão, claro), eu me impressionei quando vi a quantidade de bebês brasileiros q passam o dia em um carrinho de passeio, presos! Desde q passamos o Uri do moisés pro carrinho de passeio aos 3 meses, ele (o carrinho), não entra em casa, fica do lado de fora da porta. 


Resumindo, não existe um padrão generalizado, nem aqui, nem no Brasil. O q existem são famílias com background diferentes, que criam seus filhos da maneira que dá que acham certa. Tem também as diferenças entre os pais, já que eu convivo com muitos casais "misturados" de israelenses e brasileiros, ou como no nosso caso, uma brasileira e um uruguaio. Apesar de virmos de países vizinhos, a minha criação e a do Ariel foram praticamente opostas. Não só a criação, mas tudo o que vivemos, aprendemos, lemos, vivenciamos. E tudo isso reflete na maneira como resolvemos criar o nosso filho. O que funciona aqui é muita conversa, muita troca de idéias e acordo no que queremos passar pra ele, porque acho que um dos maiores erros dos pais é entrar em conflito sobre a educação das crianças na frente delas. Não que isso não aconteça nunca, mas procuramos nos policiar pra evitar. 


Enfim, nosso filho ainda é pequeno e eu não tenho muita experiência com disciplina ainda. As birras e os escândalos estão apenas começando por aqui. Temos tentado manter a calma e a liderança pra lidar com os shows dele, mas ainda estamos na base do erro e do acerto nesse ponto. Eu tenho plena consciência dos valores que quero passar pra ele, da educação que quero que ele tenha, da cultura que eu gostaria que ele adquirisse na vida. Como isso será feito na prática, ainda estamos descobrindo. 


Pra terminar, algumas coisas que eu acho bem legais pras crianças aqui da Terra Santa:


1. Como a violência urbana aqui é praticamente nula, na maioria das cidades as crianças maiores (uns 7, 8 anos), andam sozinhas, saem para brincar, vão para a escola em grupos. Fora isso, os parques vivem lotados e os pais de crianças um pouco maiores do q o Uri podem sentar e conversar tranquilamente enquanto seus filhos se divertem, sem o medo de eles serem sequestrados. 


2. Como eu disse em outro post, a cultura de parques, passeios, picnics é muito forte e ninguém acha que andar pelo shopping é passeio. 


3. A infância e a inocência são infinitamente mais preservados do que no Brasil. Não há, em espécie alguma, a erotização vergonhosa pela qual os brasileirinhos são expostos. Eu às vezes vejo meninas de sandália de salto, mas isso com certeza é por falta de informação dos pais (ou por falta de gosto) e não por querer fazer da menina uma pequena Globeleza. Criança é criança, vive descabelada (até demais), suada e brincando como criança por ai. Ninguém rebola nem dança o tchan (ou qualquer q seja o tchan do momento). Isso parece pouco pra quem está inserido nessa cultura, mas quando nos distanciamos dela, vemos o quanto é chocante ver criança pequena se sensualizando. É feio, não cabe, não combina. 


4. Do mesmo jeito, o Consumismo Infantil existe por aqui (porque publicitário é publicitário em qualquer lugar e sabe que criança é alvo certo), mas em proporções infinitas vezes menores do que no Brasil. Propagandas não passam nos canais fechados e pra falar a verdade, eu nunca vi propaganda de brinquedo passando nem nos canais abertos (já vi de chocolate, iogurte, cereal, mas brinquedo não). Como o Uri é pequeno ainda, ele não pede nada, então não sei como isso acontece com crianças maiores. Porém, baseada nas ofertas de produtos nas lojas, eu acredito que o apelo ao consumismo infantil seja mesmo muito menor do que no Brasil. É claro q sempre há os personagens amados pelas crianças, aqui pelo visto são o Pooh, a Dora, o Diego e o Ben 10, mas eu não me impressiono com a quantidade de produtos dessas marcas por ai não. Aqui em casa produtos com personagem não entram. Nós achamos feio, impessoal, bobo. O Uri tem alguns brinquedos e roupas de personagens que ganhou e se não conseguimos trocar estão aqui, mas decidimos que eles não entram na nossa casa não. 






Bom, essa é a minha opinião sobre alguns aspectos da educação em Israel. Quer saber sobre outros países do mundo? Clica aqui!

4 comentários:

  1. É isso, não importa onde vivemos, temos que dar o melhor de nós, escolher o melhor dos países onde estamos e seguir em frente!

    Adorei!

    beijocas

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  2. Gostei especialmente da parte em que você fala da erotização infantil no Brasil. Também acho o fim e adoro ver que aqui na Alemanha não é assim!
    E putz, que horror a relação TV e criança aí, hein? Eles também colocam TV pra criançada assistir nos Gans?
    Beijo

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  3. Muito bem colocado. Este contraste entre a qualidade do tempo que se passa com os filhos em relação à quantidade vale sempre à pena ser lembrado. Num modelo não tão antigo de maternidade, do tempo dos nosso pais, a mãe passava um tempo enorme dedicada exclusivamente aos filhos e, dependendo da relação dela com o marido e com a sociedade, isso poderia assumir um caráter perpétuo, de maneira que fosse passado adiante como algo natural. Às filhas muitas vezes é perguntado algo como "afinal, está reclamando de quê?", o que não deixa de transparecer um certo sentimento de rancor por comparar a vida que levou a que hoje é avó com a vida da outra que agora é mãe. Que os novos tempos e as tantas ricas maneiras de viver a maternidade derrubem este modelo antiquado que parecer impor ser possível apenas uma única forma de amor: aquela que pressupõe o sacrifício de uma vida.

    Um abraço,

    Michelle

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  4. Oi Lu gostei muito do seu texto..imaginava um pouco diferente o cotidiano por aí..mas é assim, vamos conversando, cedendo, aprendendo com as novas culturas e adaptando com a nossa..Boa sorte!!super bjs

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