terça-feira, 18 de março de 2014

O parto da Lia - parte I

Meu primeiro filho, Uri, nasceu no dia 17 de fevereiro de 2011, às 40 semanas e 3 dias, no Hospital Leniado em Netanya, Israel. Apesar de toda a minha (então presumida) preparação, tive um parto ruim, traumatizante. Não vou entrar em detalhes sobre ele aqui (porque já tenho muito o q escrever sobre o meu segundo parto), mas foi um parto induzido (usando prostaglandina sintética, Citotec), relativamente rápido, mas extremamente dolorido. Meu corpo teve uma reação péssima ao indutor, tive contrações insanas, fui de 0 a 10 de dilatação em menos de 1 hora, os batimentos dele caíram muito e passamos horas observando o monitor e rezando para q eles subissem, foi usado o aparelho de vácuo para tirá-lo às pressas, pois ele estava em sofrimento fetal, levei muitos pontos dados por um médico insensível q se irritou com a minha dor, sofri muito durante e após o parto, com dores horríveis por mais de 2 semanas e um trauma q só foi apagado exatamente 3 anos depois.

Não me cabe nem adianta julgar os motivos pelos quais aquele parto foi induzido, nem a falta de sorte com a equipe q me atendeu naquele dia. Graças a D-us meu filho nasceu bem e nem de longe tem alguma sequela da sua (triste e confusa) chegada ao mundo. E pra mim isso é muito importante.

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Três anos depois, me vi grávida e com muita vontade de mudar essa história, de trazer minha filha ao mundo de uma maneira mais gentil, mais feliz e mais emocionante. Li mais, conversei mais, procurei saber mais. Na gravidez do Uri, tudo me parecia natural: “Assim como ele entrou, ele sairá. Vai doer, vai demorar, mas ele vai chegar e vai ser bom”. Bom foi tê-lo comigo, mas a chegada não foi boa. E eu queria muito mudar isso.

Aqui em Israel, o médico q te acompanha na gravidez muito provavelmente não estará no seu parto. Aliás, ele nem vai saber q você teve contrações e q foi pro hospital quando a tua bolsa estourar (se a bolsa estourar). Você vai se dirigir ao hospital mais próximo (ou o q tiver escolhido) e quem vai te ajudar será uma parteira. As parteiras se revezam entre uma sala de parto e outra, atendendo todas as parturientes e há um ou dois médicos de plantão para quando a coisa complica, mas enquanto tudo estiver bem, quem vai te ajudar é a parteira e sinceramente, não há perigo nenhum nisso, todas são extremamente profissionais e capazes e um médico não faz falta (acredite, brasileira!).

Tenho um ginecologista e obstetra do qual eu gosto muito (tanto q o chamo de Dr. Queridinho) e q me acompanha desde a gravidez do Uri. Ele me atende tanto na clínica do plano de saúde quanto no Hospital Leniado, onde trabalha duas vezes por semana.

Dessa vez, na vontade e esperança de ter uma experiência mais legal, resolvi usar um serviço especial do Leniado: A contratação de uma parteira particular, q me conheceria antes do parto, saberia dos meus medos e ansiedades e estaria comigo o tempo todo. É um serviço caro, o marido perguntou se era mesmo necessário um gasto tão grande numa época tão economicamente conturbada na nossa pequena família com a chegada de outro filho, mas eu fui clara – “Eu posso discutir tudo com você, decidir todos os nossos gastos juntos, mas como quem passou e passará por isso sou eu e somente eu, me dou o direito de tomar essa decisão sozinha” e ele ficou sem opção e concordou. Para ilustrar, esse serviço especial me custou metade do q somente um ginecologista cobra pra fazer um parto normal no Brasil.

Conversando com a minha acupunturista (aka, minha guru), recebi indicação de uma das parteiras q trabalham no Leniado, a Avigail. Meu médico e várias outras pessoas também a recomendaram. Mas eu tinha q falar com ela logo no ínicio da gestação, ou ela não estaria disponível. Me lembro q falei com ela ao telefone em setembro, com menos de 3 meses de gestação. Ela anotou a minha data provável do parto e pediu pra eu entrar em contato quando estivesse com 30 semanas de gestação.
Paralelo a isso, uma amiga querida, a Elza, q além de amiga, de família brasileira em Israel e dona da creche onde o Uri vai é doula também, se ofereceu para estar conosco no parto.


Assim como a primeira gravidez, essa também correu bem, com alguns incômodos, mas sem nenhum problema grave q fosse de real preocupação. Aliás, apesar dos enjoos q senti dessa vez (enjoei pouco na gravidez do Uri), me senti muito melhor nesses nove meses do q tinha me sentido então. Mais leve, mais disposta, mais ativa (com uma criança pequena em casa não tinha outra opção).

A única coisa q de fato me preocupou no final foi a quantidade de líquido amniótico, q estava mais baixa do q o normal desde a semana 30. Passei a fazer um controle semanal com o meu médico, ultrasom e cardiotoco e tudo estava controlado, alguma semanas com mais líquido, outras semanas com menos, mas sempre tudo sob controle.

Até q no dia do meu aniversário, dia 11 de fevereiro, o Ariel me fez uma surpresa e foi me encontrar na clínica onde eu fazia US. Dessa vez a quantidade de LA não era suficiente e o médico se assustou e me assustou. Me mandou ir ao hospital encontrá-lo no dia seguinte, quarta feira. Disse q se a quantidade de LA não subisse, ele iria precisar induzir meu parto.

Mesmo já estando na semana 36 da gravidez, eu não estava pronta pro nascimento dela. Eu precisava de mais uma semana, pelo menos, para terminar de preparar tudo para a sua chegada e eu queria poder comemorar o aniversário de três anos do Uri, q seria na semana seguinte. Parece fútil, mas me entenda – Aos três anos, ele já entende e vibra o seu dia especial e esperava por ele há meses. Teríamos uma festinha no dia 14 na creche e outra em casa, na data mesmo. Uma festa pequena, para poucos convidados, mas cheia de amor de dois pais cansados mas q queriam q ele curtisse aquele seu dia. A decoração ia ser mais simples, as comidas mais práticas, mas a festa precisava acontecer.

De qualquer maneira, sem saber o q ia me acontecer no dia 12, terminei de arrumar a mala do hospital, deixei uma malinha pronta pro Uri, caso ele precisasse ir dormir em outro lugar e rezei para q o melhor acontecesse. Ah, e tomei muita, muita água e vários banhos de banheira pra tentar ajudar a aumentar a quantidade de LA.

A sala de cardiotoco- muito amor


Chegando no hospital, o médico me olhou e riu: “Eu ouvi mesmo nas notícias q o nível de água do Mar da Galiléia desceu de tanta água q você tomou. Pode voltar pra casa, ela não nasce hoje”. E assim foi naquela quarta feira, na sexta seguinte e no domingo também. Eu chegava e saía do hospital, pois o nível de LA se mantinha minimamente OK para a segurança da minha filha. Tive tempo de participar das duas festas do Uri e de curtir o aniversário de três anos dele da maneira como tínhamos planejado e sonhado.









Naquela semana, tirei três dias de folga do trabalho – a 2a feira, dia 17, por conta do aniversário dele, a 3ª e a 4ª para descansar, colocar os pés pra cima e organizar a casa e a chegada da nenê. Estava tão cansada no dia seguinte à festa dele q não tive forças pra sair da cama. Tinha chegado ao meu limite naquela gravidez, precisava diminuir uma marcha, descansar, dormir. E foi o q eu fiz, só sai da cama para levá-lo e buscá-lo na creche.

Na 4ª feira, dia 19, ele veio para a minha cama cedinho, como faz às vezes. Me beijou e abraçou tanto q eu tive certeza de q ele sabia q daquela consulta de controle do hospital eu não voltaria para casa. Cheguei a comentar isso com algumas pessoas, eu sabia q aquele era o dia. Meu filho, q é sempre muito carinhoso, tinha alguma coisa a mais naquela manhã q me fez saber q aquela gravidez estava chegando ao fim. A despedida demorada na creche me fez acreditar mais ainda nisso. Apesar de ansiosa e preocupada, eu estava tranquila. Fui pro hospital e mais uma vez, senti ao entrar q eu ficaria lá por mais do q algumas horas.

Fiz o cardiotoco e a nenê continuava, como sempre, feliz aqui dentro. Mas quando o meu médico colocou o aparelho de US na minha barriga, eu não cheguei a me assustar ou surpreender quando ele anunciou q eu não tinha LA nenhum. Apesar de ter feito tudo o q estava a meu alcance para aumentar esse líquido, eu sabia q tinha chegado o momento dela vir ao mundo. Não me preocupava com a idade gestacional (eu entraria na semana 38 no dia seguinte), nem com o seu peso (ela tinha peso estimado em 3100 no último US), só uma coisa me apavorava, e muito: A indução.

Eu não queria passar por aquele inferno de novo, eu tinha medo da reação do meu corpo, eu tinha sonhado com tudo tão diferente dessa vez – A bolsa estourando, a correria pro hospital, as contrações naturais e não sintéticas, a sala de parto natural (ao contratar a parteira particular, eu ganhava o direito de usar a sala de parto natural do hospital), a banheira, etc. Mas parecia q eu estava assistindo ao mesmo filme, três anos depois. Chegar ao hospital numa quarta feira, ser examinada na mesma sala, pelo mesmo médico e saber q dali eu não sairia sem o bebê no colo.

Ele ainda tentou me examinar e ver se eu tinha alguma dilatação pra poder escolher outro método q não o Citotec dessa vez, a pedido meu, mas não tinha nenhuma, zero, nada, tudo fechado e lacrado. Ele sabia q eu não queria esse método, tentou procurar outras opções, mas não encontrou nenhum (balão de Foley não se usa nesse hospital e ocitocina e separação das membranas só se eu tivesse alguma dilatação, o q não era o caso).

Cheguei a perguntar se eu poderia, caso quisesse, optar pela cesárea e ele disse q sim, q a escolha era minha. Mas eu não queria, por mais q eu tivesse pânico da indução e soubesse q a cesárea encurtaria o tempo de espera e me proporcionaria menos dor antes e durante o parto, eu tinha medo do pós-parto e essa também não era a forma q eu tinha sonhado em parir dessa vez.

Ele me deixou pensar e consultar quem eu quisesse antes de decidir e eu comecei com a série de telefonemas: Liguei pro Ariel e avisei q dali eu não saía mais e ele disse q estava indo me encontrar, mesmo com os meus pedidos pra q ele ficasse no trabalho e não gastasse um dia de folga, já q a gente sabia q mesmo induzida, o parto demoraria pra começar. Liguei também pra Elza, a doula, q consultou a diretora do hospital (brasileira e amiga dela), q concordou com o médico. Depois telefonei pra Yael, a minha acupunturista-guru q, mesmo sendo a pessoa mais humanista q eu conheço, concordou q, se tinha q ser feito, então tinha q ser feito, mas q nem por isso o parto seria necessariamente ruim (e eu chorei quando ela me disse isso). Por último, falei com a Avigail, a parteira, q estava no hospital e me examinou antes de dizer q o médico tinha razão, eu não tinha dilatação nenhuma e o único método disponível era o Citotec mesmo. Por sugestão dela (e da doula também), fui à sala do médico e perguntei se poderia receber uma dose menor do indutor, para evitar o efeito catástrofe q tive no parto anterior. Ele concordou e fomos, eu, ele e a parteira, acertar a minha internação e fazer os procedimentos necessários. Além da dose menor, eu receberia o Citotec em forma oral, diferente da outra vez, q tinha sido pela vagina.




Fui internada na ala nova do hospital, um lugar q mais parece um hotel, todos os quartos são novos, limpos, grandes e têm vista pro mar. Fiquei sozinha nesse quarto (teoricamente duplo) pelo resto do dia e isso foi ótimo. O Ariel chegou logo em seguida, a Elza veio um pouco mais tarde e ficamos esperando as contrações começarem. A cada quatro horas vinham ao quarto me fazer cardiotoco e decidir como continuar a indução. Às 3 e pouco da tarde recebi outra dose do Citotec, já q as contrações não tinham começado.





a vista do quarto

Uma das minhas maiores preocupações nesse parto sempre foi o Uri. Não temos família em Israel, o Ariel não abria mão de ficar comigo e ver a filha nascer (principalmente por ele não ter podido acompanhar o nascimento do Uri por causa do vácuo) e eu não podia e nem queria tirar esse direito dele. Ele estaria na creche até as 5 da tarde e a filha da Elza passaria a noite com ele, mas eu sabia q ela tinha as suas obrigações no final da tarde e por isso resolvi ligar pra Iara, uma amiga de mais de 15 anos, e pedir socorro. Ela não poderia sair de Tel Aviv e chegar a tempo, mas a sua mãe não pensou duas vezes antes de subir no trem e viajar duas horas para ficar com o Uri até a Shai-ly chegar, às 8 e meia da noite.

Mas a indução não ia pra frente, então mandei a Elza e o Ariel pra casa no final do dia. Eu precisava deles descansados, positivos e operantes quando o parto começasse, e não dormindo em poltronas e esgotados. Além disso, eu precisava saber q o Uri estava bem e tranquilo, e sabia q ver o pai o acalmaria (meu filho é super dado e simpático, mas nunca dormiu sem os pais em casa e eu sabia q ele poderia estranhar a agitação toda, mesmo q estivesse aparentemente curtindo). Prometi chamar os dois caso houvesse necessidade. 

4 comentários:

  1. Oh... Nao vejo a hora de continuar lendo...emocionante!!

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  2. ai que ansiedade..agurado as cenas do próximo capítulo!!!
    Raquel Cabreira

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  3. Ahhhhh....não para Lu!!! Ansiosa esperando a continuação!!!

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  4. Muito emocionante. Parte II, pleaaaase :)))

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