quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Quem cuida do seu filho em Israel?


Esse é outro post que fez parte de uma Blogagem Coletiva do Mães Internacionais (originalmente no Grãozinho de Bico) e resolvi transferir pra cá.

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A licença maternidade paga em Israel é de míseras 14 semanas (3 meses e meio). Depois disso, se a mãe desejar, as empresas têm que aceitar que ela tire até os seis meses do bebê, mas ela não receberá mais pagamento por esse mês e meio. Após os 6 meses, fica a critério da empresa aceitar uma extensão ou não. Nem vou entrar no mérito do que é justo e o que não é, do quanto dói deixar o filho pequenininho e voltar para o trabalho e do quanto eu queria morar na Estônia, onde a licença maternidade pode chegar a 3 anos!!!

Então, chegada a hora maldita as mães têm algumas opções de cuidados pros bebês.

A comunidade russa (enorme no país), e muitos israelenses também, optam em deixar com a vovó. Na cultura russa isso é bem comum, minhas amigas do trabalho deixam os bebês com as babushkas e eu vejo um monte delas passeando com carrinhos por ai. Essa, pra mim, seria a opção ideal (tirando a de eu poder ficar em casa até o o primeiro aniversário dos meus filhos). Na minha opinião, até 1 ano de idade, o bebê não necessariamente precisa de contato com outros bebês, não precisa de muitos estímulos fora os que são dados pela mãe, se essa realmente passar um tempo de qualidade com o seu filho. Tipo aula de inglês, de música ou de sei lá o q, na minha opinião, é bobeira antes de 1 ano. Contato com outras crianças é legal, principalmente depois de uns 9, 10 meses, mas se a mãe tiver um círculo de amigas com filhos da mesma idade, se levar sempre no parquinho, se procurar atividades para bebês (no shopping na esquina de casa, tem encontros semanais e gratuitos para mães e bebês, com atividades que estimulam o desenvolvimento deles), a escolinha não é realmente fundamental.

Quem, como eu não tenha a safta (vovó, em Hebraico) por perto, mas ainda acha q o bebê deve receber um cuidado 1:1 nos primeiros meses, apela pra babá (ou metapelet). Aqui em Israel, a metapelet pode estar na sua casa ou na casa dela mesmo. Se for na sua casa, ela é, a priori, contratada pra cuidar do bebê, não da casa. Você pode combinar que ela cuide da roupinha dele e faça a comidinha dele enquanto ele dorme, mas não mais do que isso. Se vc quiser que ela faça qualquer outra coisa, tem que pagar a parte, o que é muito justo. O salário de uma metapelet varia, vai de 2 mil e poucos shekels (mil e poucos reais), a uns 5 mil, dependendo do número de crianças, da quantidade de horas trabalhadas por dia, e do que ela vai fazer na sua casa e pro bebê.

Dá também para deixar o bebê na casa da babá, se ela preferir e se você concordar (e ainda por cima achar estranho ter alguém enfiado na tua casa o dia todo). Essa é uma ótima alternativa também, desde que a babá escolhida seja uma pessoa de extrema confiança e que tenha indicações. Nas duas opções, vale combinar todos os detalhes, os horários, o que pode e o que não pode fazer com o bebê e em geral, principalmente se for na casa dela, porque a gente tende a se sentir menos à vontade e não fala desde o início, ai acontecem coisas que te desagradam, mas você acaba não falando nada. Por exemplo: Você combina com a babá o período de 9 às 16. Estando na casa dela, você até imagina que tudo bem ela fazer o almoço e comer enquanto o bebê dorme. Isso é normal, isso é aceitável. Porém, chegar na casa da babá e encontrar o teu filho, que já engatinha, preso no carrinho (sempre detestei carrinho dentro de casa, criança tem que ficar livre, aqui o carrinho fica do lado de fora, meu filho nunca ficou sentado no carrinho em casa), na cozinha com ela, enquanto ela limpa a casa com litros e litros de água sanitária. Isso não é OK!!!! Não é OK porque você não paga a babá pra limpar a casa dela quando poderia estar brincando, passeando ou cuidando do teu bebê e é menos OK ainda porque manter um bebê num ambiente fechado com cheiro de água sanitária é perigoso. Então, aprenda comigo: Combine tudo, escreva, converse, pergunte, teste. Não tome como certo que a babá vai pensar como você e querer o melhor pro teu filho. Talvez o melhor dela não seja tão bom assim. E fale tudo que te incomodar, desde sempre, pras reclamações não se acumularem e tudo ficar pior. E isso vale para babás israelenses, russas, brasileiras, argentinas, filipinas...

Os pais que não têm condições de ter uma metapelet, podem contar com uma outra opção: Algumas mães de bebês que podem ficar mais meses em casa mas que desejam aumentar a renda familiar, pegam mais um bebê pra cuidar junto com o seu. De novo, é uma ótima alternativa se você conhecer essa mãe, ou tiver muitas e excelentes indicações dela. E de novo, combine TUDO.

Há outras pessoas que resolvem cuidar de 3 a 4 bebês em suas casas. A isso se dá ao nome de mishpachton . Eu não sei dizer se há algum regulamento ou fiscalização para os mishpachtonim (plural de mishpachton), ou se quem quiser abre o seu e pronto. Já ouvi histórias horripilantes sobre eles, da cuidadora que espanca criança, de comida de pouca qualidade, de crianças jogadas em frente à TV o dia todo. Por outro lado, já ouvi falar de cuidadoras cuidadosas (há!) e carinhosas, lugares limpinhos e próprios pros pequenos, enfim, é a opção pra quem não quer ainda colocar o seu filho numa creche com muitos bebês.

As creches (ou ganim) aqui podem ser públicas ou privadas. Geralmente, as públicas, as gratuitas, começam aos 3 anos de idade da criança. Antes disso, há creches de entidades beneficentes que têm um bom desconto na mensalidade. Para isso, a mãe tem que provar q a renda familiar é mais baixa e o desconto é dado de acordo a isso. Esses ganim são muito concorridos não só por esse fator econômico, mas pela qualidade nos cuidados com as crianças (segundo contam). 

Nós pagamos pro Uri o equivalente a 1250 reais, pro período de 7 às 4 (se quiséssemos até às 5 seria 50 reais mais caro) de domingo à quinta e 7 às 12 às sextas feiras. Nesse preço estão incluídas 3 "refeições" - café da manhã (que pra gente seria mais um lanche da manhã, porque é "tarde", 9 e pouco, e ele toma café da manhã em casa), almoço e um lanchinho à tarde (não considero refeição porque ele sempre chega em casa morrendo de fome), algumas aulinhas extras por semana (yoga e esporte para crianças pequenas e musicalização) e só. Fraldas, lenços umedecidos, creme pra assadura, leite artificial (se for o caso) são mandados pelos pais.

Há ganim bons e ruins, como em todo lugar, eu acredito. Os espaços podem ser grandes, arejados e arrumados, mas também pequenos e bagunçados. Há ganim com camêras que filmam tudo e os pais podem ver os filhos pela internet, há ganim que mandam fotos pros pais das atividades dos pequenos com uma certa frequência, há ganim onde tudo é uma bagunça. Tem que saber procurar e acima de tudo, ter recomendações de gente conhecida.

Ainda pra essa faixa etária (até os 3 anos), há ganim religiosos, russos, bilingues (inglês e hebraico). Esses ganim têm uma certa fiscalização do governo, mas não são administrados por ele. A partir dos 3 anos, a criança vai pro gan trom-trom hová ("creche pré-pré obrigatória") e aí sim é o governo que manda e fiscaliza, há um planejamento a ser seguido, que é igual para todos e ele é Hebraico. Mesmo se a criança for para o gan onde só se falava russo até essa idade, ela terá que ir ao gan hová "nacional" quando for a hora. Esse gan é gratuito e funciona até às 13 ou 14 horas. Se os pais precisam que a criança fique até o final da tarde, pagam pelo tza'aron (falo dele aqui embaixo).

Aos 6 anos eles começam a escola, que é pública também (há escolas particulares, mas elas são as bilingues, as internacionais, enfim, as "especiais"). No ensino fundamental (até a 5a série de quando nós estudávamos - já me perdi com as mudanças na nomeclatura no Brasil ) as crianças estudam só na parte da manhã e um ou outro dia saem um pouco mais tarde.

Pras mães que trabalham e não têm onde deixar os filhos (maiores) na parte da tarde, há os tza'aronim, tanto nas escolas quanto fora delas. São lugares onde as crianças almoçam, passam a tarde, têm ajuda pra lição de casa, às vezes atividades como pintura, artesanato e brincadeiras dirigidas.

A minha opinião sobre o sistema, baseado no que vivemos até agora com o Uri (1 metapelet e 2 ganim particulares) ? Talvez por falta de sorte, talvez por exigência minha (confesso, sou chata), mas não estou satisfeita. com a metapelet, além de outros problemas que não têm a ver com ela (era longe demais), faltou comunicação no começo, faltou pontuar muitas coisas e eu acabei não falando de coisas que me incomodavam desde o começo, fui deixando passar e depois elas ficaram insustentáveis pra gente.

O primeiro gan que ele foi era longe demais (20 minutos pra ir, 20 pra voltar, mais os minutos que passávamos lá, quase 1 hora perdida de manhã e à tarde) e era ruim. As cuidadoras não paravam no emprego (forte indicativo de um mau local de trabalho). Eu tinha a impressão que meu filho ficava jogado no chão o dia todo, salvo quando comia ou dormia, e não era estimulado de maneira alguma. Eu não gostava das cuidadoras, não confiava. Enfim, não era bom. Ainda assim, demorou 6 meses pra eu me convencer de que o problema era o gan, não eu e a minha exigência.

Ai encontramos esse novo gan, na rua de baixo de casa, o que tranformou a nossa vida para melhor, temos muito mais qualidade de vida com o Uri, de manhã e à tarde (e até hoje eu e o marido nos perguntamos onde estávamos com a cabeça de colocar o nosso filho em dois lugares tão longes - a metapelet e o outro gan). Eu gosto muito de duas das 3 cuidadoras fixas, são mais velhas, são mães e se preocupam pra valer com o bem-estar das crianças. A terceira cuidadora é a dona do gan e responsável pela parte "pedagógica". Eu gosto dela, acho que ela faz um trabalho legal com as crianças, mas já a peguei gritando, o que eu não gosto. Fora que às vezes eu sinto que ela é um pouco falsa, fala as coisas que eu quero ouvir. Uma coisa que me incomoda bastante é às vezes chegar e a filha da dona (uma pirralha de 22 anos antipaticíssima e sem o menor appeal com as crianças) estar cuidando deles porque as outras cuidadoras já não estão. A comida é OK, mas o cardápio não varia muito e o pior, na minha opinião, é que oferecem doces pras crianças, pão com chocolate no lanche, Bamba e balas nas festinhas. Isso vai muito contra o que eu e o marido queremos e ensinamos ao Uri, mas recentemente, vendo meu filho deixar um bombom derreter na mão por falta de interesse e se acabar de gritar porque acabou o melão cortadinho no potinho dele, percebi que o nosso trabalho está feito, meu filho pode até comer um doce ou outro na creche (mesmo com toda a minha indignação com isso), mas só de não termos porcarias em casa - pelo menos não ao alcance dele - e ele vendo muitas coisas saudáveis por aqui, já adaptou o paladar. 



Além disso, eu percebo que o Uri aprende bastante coisa no gan, tanto no convívio social - guardar os brinquedos, aprender a dividir, a escutar comandos (como o de sentar e escutar) como músicas e palavras em Hebraico (coisa que não aprende em casa). Um dia, do nada, o vejo cantando musiquinhas em Hebraico, fazendo gestos, e percebo que ele tem sim um mundo "dele", longe dessa casa e da nossa influência.

De qualquer forma, pelo q eu ouço por aqui, apesar de diferente, o ensino em Israel é bom. Quer dizer, se compararmos às melhores escolas particulares do Brasil, claro que ele sai perdendo, mas sendo o ensino fundamental público, ele é bastante razoável. Quanto às creches, eu sinto sim falta de uma boa creche particular pro Uri, dessas ueq eu vejo nos blogs por ai. Aqui o negócio é diferente, não tem tanto capricho, mas como eu sei que me dedicaria à educação dele em casa de qualquer maneira, me forço a não ficar me lamuriando e não tentando comparar muito

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